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Capítulo VIII

A imagem no vídeo desvaneceu-se quando Alvin levantou as mãos do painel e desimpediu os circuitos. Por um momento permaneceu sentado, imóvel, olhando para o retângulo negro que ocupara sua mente consciente durante semanas a fio. Ele circunavegara seu mundo, pela tela passara cada centímetro quadrado das paredes exteriores de Diaspar. Conhecia a cidade melhor do que qualquer outra pessoa, com a possível exceção de Khedron. Sabia agora que não existia saída através dos muros.

O sentimento que o tomava todo não era de simples desapontamento. Na verdade, não esperara encontrar o que procurava logo na primeira tentativa. O importante era que eliminara uma possibilidade. Agora, deveria atacar as outras.

Levantou-se e caminhou até a imagem da cidade que quase enchia a sala. Era difícil não pensar nela como um modelo real, embora soubesse que não passava de uma projeção óptica da matriz das células de memória que estivera a explorar. Quando ele modificava os controles do Monitor e fazia o ponto de vista mover-se por Diaspar, um ponto de luz deslizava pela superfície da réplica, de modo que ele pudesse ver exatamente para onde estava indo. Esse ponto de luz fora excelente guia nos primeiros dias, mas ele passara a dominar de tal modo o manejo das coordenadas que agora podia dispensar esse auxílio.

A cidade estendia-se à sua frente, olhava-a como um deus. No entanto, mal a via, enquanto pensava, um a um, nos passos que teria de dar agora.

Se tudo mais falhasse, havia uma solução para o problema. Diaspar podia ser mantida em perpétua imobilidade por seus circuitos de eternidade, congelada para todo sempre de acordo com os modelos nas células de memória. Mas até mesmo esse modelo podia ser alterado e, nesse caso, a cidade mudaria com ele. Seria possível reprojetar uma seção do muro exterior, dando-lhe uma passagem, colocar esse modelo nos Monitores e deixar a cidade dar a si mesma uma nova concepção.

Alvin suspeitava que as grandes áreas no painel de controle do Monitor, cuja finalidade Khedron não lhe explicara, estivessem relacionadas com essas alterações. Seria inútil experimentá-los. Os controles capazes de modificar a própria estrutura da cidade estavam firmemente travados, e só poderiam ser operados com autorização do Conselho e aprovação do Computador Central. Havia pouquíssima possibilidade de o Conselho conceder-lhe o que pedia, mesmo que estivesse disposto a solicitação paciente, durante décadas, ou mesmo séculos. Era uma perspectiva que não o atraía absolutamente.

Alvin dirigiu seu raciocínio em direção ao céu. Às vezes havia imaginado, em fantasias de que se envergonhava um pouco de recordar, ter reconquistado a liberdade do ar, a que o homem renunciara havia tanto tempo. No passado, ele sabia, os céus da Terra tinham estado apinhados de formas estranhas. Do espaço exterior chegavam enormes naves, trazendo tesouros desconhecidos, e ancoravam no lendário Porto de Diaspar. Mas o Porto se tinha localizado além dos limites da cidade, há eras havia sido soterrado pela areia. Alvin sonhava que em algum lugar, nos labirintos de Diaspar, ainda haveria uma máquina voadora oculta, mas não acreditava realmente nisso. Mesmo nos dias em que máquinas voadoras pequenas e pessoais tinham sido de uso comum, era muito improvável que fosse permitido sua utilização, mesmo dentro dos limites da cidade.

Durante um momento, perdeu-se no velho sonho. Imaginou-se senhor dos céus, viu o mundo a seus pés, convidando-o a viajar onde lhe aprouvesse. O que via não era o mundo de seu próprio tempo, e sim o mundo perdido do Alvorecer — um panorama rico e vívido de montanhas, lagos e florestas. Sentiu uma inveja amarga de seus desconhecidos ancestrais, que haviam voado com tamanha liberdade sobre a Terra e deixado sua beleza fanar-se.

Esse devaneio entorpecedor era inútil. Alvin libertou-se dele e retornou ao presente e ao problema que tinha diante de si. Se o céu era inatingível e se o caminho terrestre se achava bloqueado, o que lhe restava fazer?

Mais uma vez chegara ao ponto em que necessitava de ajuda, em que não podia progredir mediante seus próprios esforços. Não lhe agradava admitir isso, mas era suficientemente honesto para não negá-lo. Inevitavelmente, seus pensamentos voltaram a Khedron.

Alvin jamais seria capaz de concluir se gostava ou não do Bufão. Estava satisfeito por se terem encontrado, e grato a Khedron pela ajuda e simpatia implícita que lhe dera em sua procura. Não existia em Diaspar outra pessoa com quem ele tivesse tantas coisas em comum, mas havia alguma coisa na personalidade do outro que lhe desagradava. Talvez fosse o ar de irônico desinteresse, que às vezes dava a Alvin a impressão de que o Bufão estava se divertindo, secretamente, com todos os seus esforços, mesmo se parecia fazer todo o possível para ajudá-lo. Por isso, e também por causa de sua teimosia e independência naturais, Alvin hesitava em aproximar-se do Bufão, exceto como último recurso.

Combinaram encontrar-se num pequeno pátio circular, não distante do Palácio do Conselho. Havia na cidade muitos lugares isolados como esse, às vezes a poucos metros de uma rua movimentada, mas inteiramente apartados. Em geral só se tinha acesso a eles a pé, após uma caminhada cheia de rodeios. Outras vezes, ficavam no centro de labirintos habilmente traçados, o que realçava seu isolamento. Era característico de Khedron escolher um local desses para um encontro.

O pátio não tinha mais de cinqüenta passos de um lado a outro e estava localizado no interior de algum grande edifício. Entretanto, não aparentava ter limites físicos definidos, sendo rodeado por um material verde-azulado e translúcido, que brilhava com uma espécie de leve luz interna. E embora não se observassem limites visíveis, o pátio tinha sido disposto de forma a não haver perigo de uma pessoa sentir-se perdida no espaço infinito. Paredes baixas, que mal davam na cintura, e interrompidas a intervalos para que se pudesse passar por elas, deixavam uma impressão de seguro confinamento, sem o qual nenhum habitante de Diaspar poderia sentir-se inteiramente feliz.

Khedron estava examinando uma dessas paredes quando Alvin chegou. Era uma parede coberta por um intrincado mosaico de azulejos coloridos, tão fantasticamente emaranhados que Alvin nem sequer tentou compreender seu desenho.

— Veja esse mosaico, Alvin — disse o Bufão. — Você nota alguma coisa de estranho nele?

— Não — confessou Alvin, após um breve exame. — Não o entendo… mas não há nada de estranho nele.

Khedron correu os dedos pelo mosaico.

— Você não é muito observador — disse. — Veja essas bordas aqui, observe como Ficaram arredondadas e moles. Isso é uma coisa que só raramente se vê em Diaspar, Alvin. O desgaste, a desintegração da matéria sob a ação do tempo. Lembro-me de quando esse padrão era novo, há apenas oitenta mil anos, em minha última vida. Se eu voltar a este pátio daqui a doze vidas, os azulejos estarão completamente gastos.

— Não vejo nada de surpreendente nisso — comentou Alvin. — Há na cidade outras obras de arte que não são suficientemente boas para serem preservadas nos circuitos de memória, nem bastante ruins para serem destruídas totalmente. Um dia, acho, outro artista virá aqui e fará obra melhor. E talvez essa nova obra seja destinada a durar.

— Conheci o homem que desenhou essa parede — disse Khedron, explorando ainda as fendas do mosaico com os dedos. — É estranho que eu possa me recordar disso, já que não consigo me lembrar quem era o homem. Talvez eu não gostasse dele e por isso o apaguei da mente. — Deu uma risada. — Talvez eu próprio a tenha desenhado, numa de minhas fases artísticas, e tenha ficado de tal modo aborrecido, quando a cidade se recusou a torná-la eterna, que decidi esquecer completamente o assunto. Ali… eu sabia que essa peça estava se desfazendo!…

Khedron conseguiu soltar um floco do mosaico dourado, mostrando-se quase feliz com essa pequena sabotagem. Atirou o fragmento ao chão, dizendo:

— Agora os robôs encarregados de manutenção terão alguma coisa que fazer!

Aquilo encerrava uma lição, pensou Alvin. Aquele estranho instinto conhecido como intuição, que parecia traçar atalhos não acessíveis à mera lógica, disse-lhe isso. Olhou para o fragmento dourado no chão, tentando vinculá-lo de alguma forma ao problema que dominava seu espírito.

Não foi difícil encontrar a resposta, assim que compreendeu que ela existia.

— Entendo o que você quer dizer — disse ele a Khedron. — Há em Diaspar objetos que não estão preservados nos circuitos de memória, de modo que nunca poderei encontrá-los através dos Monitores do Palácio do Conselho. Se eu for lá e focalizar este pátio, não vou encontrar nenhum sinal da parede sobre a qual estamos sentados.

— Creio que você encontraria a parede. Mas não haveria nenhum mosaico sobre ela.

— Entendo — disse Alvin, agora impaciente demais para se preocupar com sutilezas. — Da mesma forma, podem haver partes da cidade que nunca foram preservadas nos circuitos de eternidade, mas que ainda não se desgastaram. Entretanto, ainda não compreendo em que isso me ajuda. Eu sei que as paredes externas existem… e que não há aberturas nelas.

— Talvez não exista saída alguma — respondeu Khedron. — Não posso prometer-lhe nada. Mas creio que os Monitores ainda tenham muito o que nos dizer, se o Computador Central permitir. E ao que parece ele sente queda por você.

Alvin ficou pensando a respeito dessa observação, a caminho do Palácio do Conselho. Até agora, julgara que só lhe fora permitido acesso aos Monitores exclusivamente devido à influência de Khedron. Não lhe ocorrera que poderia ser devido a alguma qualidade intrínseca dele próprio. Ser Único tinha suas desvantagens, era justo, então, que houvesse certas recompensas…

A imagem imutável da cidade ainda dominava a câmara onde Alvin passara tantas horas. Ele a olhou com uma nova compreensão. Tudo o que via ali existia realmente — mas nem tudo que havia em Diaspar aparecia ali. Decerto, as discrepâncias deveriam ser de pequena monta — e, até onde ele podia ver, imperceptíveis.

— Tentei fazer isso há muitos anos — disse Khedron, sentando-se diante do Monitor —, mas os controles estavam fechados para mim. Talvez me obedeçam agora.

Primeiro, devagar, e depois com mais confiança, à medida que recuperava acesso a técnicas havia muito esquecidas, os dedos de Khedron moveram-se sobre os controles, descansando por um momento nos pontos nodais na placa sensível, enterrada no painel à sua frente.

— Parece que está certo — disse, finalmente. — De qualquer forma, veremos logo.

A tela ganhou vida, mas ao invés da imagem que Alvin tinha esperado, apareceu uma mensagem um tanto desconcertante:

A REGRESSÃO TERÁ INÍCIO

ASSIM QUE FOR RESTABELECIDO

O CONTROLE DE VELOCIDADE

— Cometi uma tolice — murmurou Khedron. — Fiz o resto todo certo, mas esqueci o mais importante. — Seus dedos moviam-se agora com segurança sobre o painel e assim que a mensagem apagou-se no vídeo, ele girou no assento, a fim de examinar a réplica da cidade.

— Veja isso, Alvin — disse ele. — Creio que vamos aprender alguma coisa nova a respeito de Diaspar.

Alvin esperou pacientemente, mas nada aconteceu. A imagem da cidade flutuou ali, diante de seus olhos, com todas as suas belezas e maravilhas familiares — muito embora ele não tomasse consciência delas agora. Estava para perguntar a Khedron o que devia procurar ver quando um movimento súbito chamou sua atenção e ele voltou rapidamente a cabeça a fim de acompanhá-lo. Não tinha sido nada mais que um clarão ou brilho fugaz, e já era tarde demais para ver o que é que o tinha provocado. Nada havia mudado, Diaspar estava como ele sempre a conhecera. Então, percebeu que Khedron observava-o com um sorriso sardônico, e voltou a olhar para a cidade. Dessa vez, a coisa aconteceu diante de seus olhos.

Um dos edifícios à beira do Parque desvaneceu-se subitamente, sendo substituído por um outro, de forma inteiramente diferente. A transformação tinha sido tão rápida que se Alvin estivesse piscando o olho ele a teria perdido. Olhou, tomado de pasmo, a cidade sutilmente modificada, mas mesmo durante o primeiro choque de assombro sua mente estava procurando a resposta para aquilo. Lembrou-se das palavras que haviam aparecido na tela do Monitor —: A REGRESSÃO TERÁ INÍCIO… — e percebeu, imediatamente, o que estava acontecendo.

— Essa é a imagem da cidade há milhares de anos — ele disse a Khedron. — Estamos voltando no tempo.

— Essa é uma maneira pitoresca, mas pouco exata, de colocar a questão — disse o Bufão. — O que acontece na verdade é que o Monitor está se lembrando das primeiras versões da cidade. Quando se fizeram modificações, os circuitos de memória não foram simplesmente esvaziados. A informação que continham foi levada para unidades subsidiárias de armazenamento, de modo que pudessem ser recuperadas, sempre que necessário. Fiz com que o Monitor regressasse através dessas unidades, a uma velocidade de mil anos por segundo. Já estamos olhando para Diaspar de meio milhão de anos atrás. Teremos de ir muito além para vermos qualquer mudança importante… Vou aumentar a velocidade.

Khedron virou-se novamente para o painel de controle, e mesmo enquanto o fazia, não apenas um edifício, mas todo um quarteirão desapareceu e foi substituído por um grande anfiteatro ovalado.

— Ah, a Arena! — disse Khedron. — Lembro-me da controvérsia que houve quando decidimos dar-lhe fim. Raramente era utilizada, mas muita gente sentia amor por ela.

O Monitor estava agora despertando suas lembranças a uma velocidade muito maior. A imagem de Diaspar retrocedia no vídeo a milhões de anos por minuto, e as mudanças estavam acontecendo com tanta rapidez que o olho humano não conseguia acompanhá-las. Alvin notou que as modificações na cidade pareciam ocorrer em ciclos, havia um longo período de imutabilidade, logo após uma febre de reconstrução, seguida por nova pausa. Era quase como se Diaspar fosse um organismo vivo que tivesse de recuperar suas energias vitais após cada explosão de crescimento.

No decorrer de todas essas modificações, o projeto básico da cidade não havia mudado. Os edifícios surgiam e desapareciam, mas o traçado das ruas parecia eterno, e o Parque continuava sendo o coração verde de Diaspar. Alvin imaginou até onde o Monitor poderia recuar. Seria capaz de chegar até a fundação da cidade, e passar através do véu que separava a história conhecida dos mitos e das lendas do Alvorecer?

Já haviam retrocedido quinhentos milhões de anos no passado. Fora dos muros de Diaspar, além do conhecimento dos Monitores, haveria uma Terra diferente. Talvez existissem oceanos e florestas, ou até mesmo outras cidades que o homem ainda não houvesse abandonado na longa fuga para sua morada final.

Os minutos passavam rapidamente, representando cada um deles toda uma era no pequeno universo dos Monitores. Dentro em pouco, pensou Alvin, chegariam às mais remotas memórias estocadas e o regresso se completaria. Por mais fascinante que fosse a lição, ele não percebia como aquilo o ajudaria a sair da cidade como ela era atualmente.

Numa implosão súbita e silenciosa, Diaspar contraiu-se a uma fração de seu antigo tamanho. O Parque desvaneceu-se, os muros sumiram, torres titânicas esvaíram-se num átimo. A cidade estava aberta ao mundo, pois as estradas radicais prolongavam-se, sem obstrução, até os limites da imagem no Monitor. Ali estava a Diaspar antes da grande mudança que sobreviera à humanidade.

— Não podemos ir além — disse Khedron, apontando o vídeo. Nele haviam aparecido as palavras REGRESSÃO CONCLUÍDA. — Esta deve ser a mais antiga versão da cidade preservada nas células de memória. Antes disso, duvido que as unidades de eternidade fossem usadas e que os edifícios durassem eternamente.

Por muito tempo, Alvin fitou o modelo da cidade antiga. Pensou no tráfego que havia rolado por aqueles caminhos, nos homens que teriam andado livremente por todos os cantos do mundo — e também de outros mundos. Esses homens eram seus antepassados, sentia-se mais próximo deles, por afinidade, do que das pessoas que agora compartilhavam de sua vida. Desejou poder vê-los e partilhar de seus pensamentos nas ruas daquela Diaspar de um bilhão de anos atrás. Mas esses pensamentos não teriam sido felizes, pois nessa época os homens deviam viver sob a sombra dos Invasores. Dentro de mais alguns séculos voltariam o rosto à glória que haviam conquistado e construiriam um muro contra o universo.

Khedron dirigiu o monitor para trás e para frente umas doze vezes, pelo breve período histórico em que se dera a transformação. A mudança — de uma pequena cidade aberta para uma outra muito maior e fechada — tinha-se efetuado em pouco mais de mil anos. Nesse ínterim deviam ter sido projetadas e construídas as máquinas que ainda agora serviam a Diaspar com eficiência, e havia sido armazenado nos circuitos de memória o conhecimento que permitia àquelas máquinas desempenhar suas tarefas. Também para os circuitos de memória deviam ter tido as características essenciais de todos os homens que viviam agora, de modo que, quando o impulso adequado os chamasse de novo à vida, pudessem ser revestidos de matéria e emergissem renascidos na Casa da Criação. Em certo sentido, pensou Alvin, ele devia ter existido naquele mundo remoto. Era possível, naturalmente, que ele fosse inteiramente de homens que no passado haviam vivido e caminhado sobre a Terra.

Muito pouco da antiga Diaspar havia permanecido quando fora criada a nova cidade, o Parque a havia obliterado quase completamente. Mesmo antes da transformação tinha havido uma pequena clareira, recoberta de relva, no centro de Diaspar, cercando a junção de todas as ruas radiais. Depois essa clareira havia se expandido enormemente, tragando ruas e edifícios. Havia surgido então o Túmulo de Yarlan Zey, substituindo uma ampla estrutura circular erguida anteriormente no ponto de encontro de todas as ruas. Alvin jamais acreditara nas lendas que cercavam a antigüidade do Túmulo, mas agora elas lhe pareciam autênticas.

— Será que podemos explorar essa imagem como exploramos a imagem da Diaspar atual? — perguntou Alvin, tomado por uma idéia repentina.

Os dedos de Khedron deslizaram sobre o painel do Monitor, e a tela respondeu à pergunta de Alvin. A cidade há tanto tempo desaparecida começou a ampliar-se diante de seus olhos, enquanto o ponto de vista movia-se através de ruas curiosamente estreitas. Essa memória da Diaspar que existira no passado era ainda tão nítida e clara quanto a imagem da cidade contemporânea. Durante um bilhão de anos, os circuitos de memória haviam-na conservado numa pseudo-existência espectral, à espera do instante em que alguém a invocasse. E não se tratava, pensou Alvin, de simples memória o que ele estava vendo agora. Era alguma coisa mais complexa — era a memória de uma memória…

Não sabia o que podia aprender com isso, nem se o ajudaria em suas buscas. Não importava. Era fascinante observar aquele passado, ver um mundo que existira nos tempos em que os homens ainda viajavam entre as estrelas. Apontou um edifício baixo e circular no centro da cidade.

— Vamos começar ali — ele disse a Khedron. — Parece um lugar tão comum como qualquer outro para começar.

Talvez tenha sido pura sorte. Talvez alguma memória remota, talvez fosse lógica elementar. Não fazia diferença, uma vez que ele teria chegado àquele ponto mais cedo ou mais tarde — aquele lugar para onde convergiam todas as ruas radiais da cidade.

Alvin levou dez minutos para descobrir que elas não se encontravam ali apenas por questões de simetria — dez minutos para descobrir que sua longa busca fora recompensada.