120550.fb2 A M?quina do Tempo - читать онлайн бесплатно полную версию книги . Страница 2

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— Era o que também me parecia, por isso nunca falei sobre o assunto, até que..

— Fez a experiência! — gritei. — Vai demonstrar isso?

— A experiência! — exclamou Filby, que já se mostrava fatigado.

— De qualquer forma, vamos a essa experiência — disse o Psicólogo —, embora todos saibamos que não passa de um truque.

O Viajante do Tempo correu os olhos em volta, sorrindo. Depois, sempre com um leve sorriso e as mãos enfiadas profundamente nos bolsos das calças, saiu da sala em passos vagarosos; ouvimos o ruído de suas chinelas ao longo do extenso corredor que levava ao laboratório.

O Psicólogo olhou para nós.

— Que será que ele vai fazer?

— Algum truque de prestidigitação ou algo no gênero — disse o Médico.

E Filby aproveitou para nos falar sobre um conjurado que ele vira em Burslem. Mas antes que acabasse o preâmbulo, o Viajante do Tempo voltou e a história de Filby ficou nesse ponto.

O objeto que o Viajante do Tempo trazia nas mãos era um reluzente mecanismo de metal, pouco maior do que um pequeno relógio de parede, e de delicada construção. Tinha partes de marfim e de alguma substância cristalina transparente.

Agora devo ser perfeitamente claro, pois o que se segue — a menos que se aceite a explicação do Viajante do Tempo — é algo absolutamente incrível. Ele apanhou uma das pequenas mesas octogonais espalhadas pela sala e colocou-a em frente da lareira, com dois pés sobre o pequeno tapete à beira desta. Sobre a mesinha pôs o mecanismo. Depois puxou uma poltrona e sentou-se.

Como único objeto sobre a mesa, além do modelo, e iluminando-o em cheio, havia uma lâmpada provida de abajur. Havia em torno cerca de uma dúzia de velas, duas em castiçais de bronze sobre o consolo da lareira e várias em candelabros de parede, de modo que toda a sala estava brilhantemente iluminada. Sentei-me numa poltrona baixa perto da lareira e puxei-a mais para a frente, de modo quase a ficar entre a lareira e o Viajante do Tempo. Filby sentou-se atrás dele, observando-o por cima do ombro. O Médico e o Prefeito Provincial o observavam de perfil pela direita, o Psicólogo pela esquerda. O Rapaz sentou-se atrás do Psicólogo. Estávamos todos bem alertas. Parece-me inadmissível que, nessas condições, pudéssemos ter sido vítimas de qualquer logro, por mais sutil e habilidoso que fosse.

O Viajante do Tempo fitou cada um de nós e depois se voltou para a máquina.

— E então? — perguntou o Psicólogo.

— Este pequeno objeto — começou o Viajante do Tempo, colocando os cotovelos sobre a mesa e juntando as mãos por cima do aparelho — é apenas um modelo. É o projeto de minha máquina de viajar pelo Tempo. Poderão notar que ela tem uma aparência muito singular e que esta barra aqui tem um brilho estranho, como se fosse algo irreal. — Enquanto falava, ia apontando com o dedo. — Vêem aqui uma pequena alavanca de cor branca, e outra aqui.

O Médico levantou-se e foi olhar o objeto de perto.

— É admiravelmente bem feito — disse.

— Foram necessários dois anos para construí-lo — disse o Viajante do Tempo. E, depois que nós todos, imitando o Médico, nos levantamos e fomos examinar o objeto detidamente, continuou: — Quero agora que os senhores compreendam claramente o seguinte: pressionando-se esta alavanca, a máquina é projetada no futuro; esta outra alavanca inverte o movimento. Esta pequena sela representa o assento do viajante do tempo. Vou pressionar a alavanca, e a máquina irá funcionar. Será projetada no futuro, e desaparecerá. Olhem bem para ela. Examinem também a mesa e certifiquem-se de que não há nenhum embuste. Não desejo desperdiçar este precioso modelo e depois ser chamado de impostor.

Houve um minuto de silêncio. O Psicólogo pareceu que ia falar, mas mudou de idéia. Então o Viajante do Tempo esticou os dedos em direção à alavanca.

— Não — disse de repente. — Dê-me sua mão.

E, voltando-se para o Psicólogo, tomou-lhe a mão e pediu-lhe que estendesse o indicador. De maneira que foi o próprio Psicólogo que pôs em marcha, para sua viagem interminável, o modelo da Máquina do Tempo. Todos nós vimos a alavanca se mover. Tenho absoluta certeza de que não houve trapaça. Ouviu-se um sopro, a chama da lâmpada sobre a mesinha pôs-se a dançar vivamente, uma das velas sobre a lareira apagou-se. De repente, a pequena máquina entrou a girar sobre si mesma, tornou-se indistinta, por um segundo talvez não foi mais que uma fantasmagoria, um brilhozinho turbilhonante de metal e marfim; e desapareceu. Sobre a mesinha restava apenas a lâmpada.

Todos ficaram em silêncio por um minuto. Então Filby soltou uma imprecação.

O Psicólogo voltou a si da estupefação e, de chofre, foi olhar debaixo da mesa. Diante disso o Viajante do Tempo não conteve uma breve gargalhada.

— E então? — perguntou no mesmo tom interrogativo que o Psicólogo usara pouco antes. Levantou-se, apanhou o pote de fumo sobre a lareira e, de costas para nós, começou a encher o cachimbo.

Nós nos entreolhamos, perplexos.

— Diga-me uma coisa — o Médico foi o primeiro a falar —, você está falando sério? Acha, com toda a sinceridade, que essa máquina está realmente viajando no Tempo?

— Sem dúvida! — disse o Viajante do Tempo, abaixando-se para apanhar um tição na lareira. Enquanto acendia o cachimbo, voltou-se e fitou o Psicólogo. (Este, para demonstrar que não estava perturbado, tirou um charuto e tentou acendê-lo sem cortar a ponta.) — E não é só isso — continuou, indicando o laboratório. — Tenho ali dentro uma grande máquina quase terminada. Quando estiver pronta, tenciono viajar eu próprio.

— Quer dizer que essa máquina se encontra agora no futuro? — perguntou Filby.

— No futuro ou no passado, não posso dizer ao certo.

— Se foi a algum lugar, deve ter ido para o passado — disse o Psicólogo, após uma pequena pausa, como se tivesse tido uma inspiração.

— Por quê? — indagou o Viajante do Tempo.

— Porque presumo que ela não se moveu no espaço e, se estivesse viajando para o futuro, ainda estaria aqui neste momento, porque necessariamente teria de cumprir o trajeto de agora.

— Mas — intervim — se estivesse viajando no passado, nós a teríamos visto quando entramos nesta sala. E na última quinta-feira, quando estivemos também aqui. E na quinta-feira anterior, e assim por diante.

— Objeções sérias — falou o Prefeito Provincial, com um ar de imparcialidade, voltando-se para o Viajante do Tempo.

— Nem um pouco — respondeu ele. E, voltando-se para o Psicólogo: — Você, que é um estudioso da mente, pode explicar muito bem. É uma percepção subliminar, uma percepção diluída.

— Naturalmente — concordou o Psicólogo, tranqüilizando-nos. — Trata-se de um ponto muito simples da psicologia. Eu devia ter pensado nisso. É bastante óbvio e explica satisfatoriamente o paradoxo. Não podemos ver nem apreciar essa máquina, da mesma forma que não distinguimos os raios de uma roda girando a toda velocidade ou uma bala no ar. Se ela estiver percorrendo o tempo cinqüenta ou cem vezes mais rápido do que nós, se ela cobrir um minuto enquanto nós cobrimos apenas um segundo, a impressão produzida será de 1/50 ou de 1/100 do que seria se ela estivesse aqui imóvel. É muito claro. — E passou a mão no lugar onde a máquina tinha estado. — Estão vendo? — perguntou, risonho.

Permanecemos sentados e, por alguns minutos, ficamos olhando para a mesa vazia. Então o Viajante do Tempo quis saber o que pensávamos de tudo aquilo.

— Agora à noite parece bastante plausível — disse o Médico. — Mas esperemos até amanhã. Pelo bom-senso que volta quando acordamos.

— Vocês querem ver a própria Máquina do Tempo?

E, sem mais, tomando uma lâmpada, ele nos conduziu pelo comprido corredor, cheio de correntes de ar, que ia ter ao laboratório. Lembro-me como se fosse agora da luz vacilante da lâmpada, de sua cabeça grande e estranha em silhueta, da dança das sombras, nós todos a segui-lo, intrigados mas incrédulos. No laboratório vimos uma versão muito maior do pequeno mecanismo que havia desaparecido diante de nossos olhos. Algumas peças eram de níquel, outras de marfim; uma parte devia ter sido trabalhada diretamente sobre cristal de rocha. A máquina parecia quase pronta, exceto as barras de cristal torcido que estavam por terminar sobre a bancada, ao lado de algumas folhas com desenhos. Apanhei uma das barras para examiná-la melhor. Pareceu-me ser feita de quartzo.

— Ouça aqui — perguntou o Médico. — Isto é mesmo sério, ou você quer fazer uma brincadeira conosco, igual àquela do fantasma que nos mostrou no Natal do ano passado?

— Com esta máquina — disse o Viajante do Tempo, erguendo a lâmpada para que víssemos melhor — pretendo explorar o Tempo. Não está claro? Nunca falei tão sério em minha vida.

Nenhum de nós sabia o que dizer.

Por cima do ombro do Médico captei o olhar de Filby, que piscou para mim com a maior gravidade.

CAPÍTULO 2

Penso que, nessa ocasião, nenhum de nós acreditou realmente na Máquina do Tempo. A verdade é que o Viajante do Tempo era uma dessas pessoas que são hábeis demais para merecer credibilidade. Nunca estávamos muito seguros a respeito dele. Sempre suspeitávamos de alguma sutil reserva, de alguma engenhosa burla, por trás de sua límpida franqueza. Se fosse Filby quem nos tivesse mostrado o modelo e explicado seu funcionamento com as mesmas palavras do Viajante do Tempo, teríamos demonstrado muito menos cepticismo. Porque teríamos percebido logo suas intenções: um açougueiro podia entender Filby. Tal não se dava com o Viajante do Tempo: havia mais do que um toque de fantasia no seu temperamento, e desconfiávamos dele. Coisas que teriam proporcionado fama a um indivíduo bem menos habilidoso, pareciam truques nas mãos dele. É um erro fazer as coisas muito facilmente. As pessoas circunspectas, ainda que o respeitassem, nunca se sentiam inteiramente seguras quanto à sua personalidade; de algum modo lhes parecia que confiar nele para estabelecer seus critérios de reputação seria o mesmo que colocar porcelana fina em mãos de crianças numa creche.

Acho ter sido por isso que, no intervalo entre essa quinta-feira e a que se seguiu, nenhum de nós fez maiores comentários sobre a questão das viagens no Tempo, embora mentalmente analisássemos todas as suas estranhas potencialidades, sua plausibilidade, isto é, tudo aquilo que na prática era difícil de crer, e ainda as curiosas possibilidades de anacronismo e de extrema confusão que elas comportavam.

Quanto a mim, não conseguia esquecer o truque do modelo da máquina. Lembro-me de haver discutido o assunto com o Médico, com quem me encontrei na sexta-feira na Linnean Society, (Associação científica britânica para o estudo da botânica, fundada em homenagem a Linneus.). Falou-me que havia visto algo em Tübingen e dava muita importância à vela apagada. Mas não sabia explicar como se fazia o truque.

Na quinta-feira seguinte voltei a Richmond — suponho que era então um dos convidados mais assíduos do Viajante do Tempo — e, tendo chegado tarde, já encontrei quatro ou cinco pessoas reunidas no salão. O Médico se encontrava diante da lareira com uma folha de papel na mão e seu relógio na outra. Corri os olhos em volta procurando o Viajante do Tempo.

— São sete e meia — disse o Médico. — Creio que seria melhor jantarmos,

— Onde se encontra. .? — indaguei, pronunciando o nome de nosso anfitrião.