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O Tenente James Pak era o oficial mais jovem a bordo da Endeavour e estava em sua quarta missão no espaço profundo; era ambicioso e seu nome figurava na lista de merecimento; mas também tinha cometido uma séria infração. Não admirava, pois, que tardasse tanto a decidir-se.
Seria um jogo; se perdesse, as conseqüências seriam talvez desastrosas para ele. Não só podia estar arriscando a sua carreira como também o seu pescoço. Mas, se lograsse êxito, seria um herói. O que finalmente o decidiu foi a certeza de que, se nada fizesse, passaria o resto de sua existência lamentando essa oportunidade perdida. Não obstante, ainda hesitava quando solicitou uma conferência privada com o Capitão.
«Que será desta vez?» pensou Norton, analisando a expressão dúbia do rosto do jovem oficial. Lembrou-se da delicada entrevista com Boris Rodrigo; não, não seria nada de semelhante. Jimmy não era do tipo religioso; os únicos interesses que já havia manifestado fora do seu trabalho eram o esporte e o sexo, preferivelmente combinados.
Dificilmente poderia tratar-se do primeiro, e Norton fez votos para que não fosse o segundo. Tinha enfrentado a maioria dos problemas que um oficial comandante podia encontrar neste campo — exceto o clássico problema de um nascimento imprevisto durante uma missão. Embora essa situação fosse objeto de inúmeros gracejos, nunca se concretizara até então; mas uma incompetência tão crassa era, talvez, uma simples questão de tempo.
— Então, Jimmy, de que se trata?
— Tenho uma idéia, Comandante. Sei como alcançar o continente meridional — inclusive o Pólo Sul.
— Estou ouvindo. Como pretende fazer isso?
— Hã… Voando até lá.
— Jimmy, já recebi, pelo menos, cinco propostas nesse sentido — mais, se levarmos em conta algumas sugestões doidas provenientes da Terra. Examinamos a possibilidade de adaptar os nosso propulsores de trajes espaciais, mas a resistência do ar os tornaria completamente ineficientes. Ficariam sem combustível antes de percorrer dez quilômetros.
— Isso eu sei. Mas tenho a solução.
A atitude do Ten. Pak era uma curiosa mistura de perfeita confiança e nervosismo mal reprimido. Norton estava intrigadíssimo; que é que tanto inquietava o rapaz? Devia conhecer bastante bem o seu oficial comandante para ter certeza de que nenhuma proposta razoável seria levianamente desprezada.
— Bem, continue. Se funcionar, tratarei de fazer com que a sua promoção seja retroativa.
Esta pequena semipromessa e semigracejo não foi tão bem recebida como ele esperava. Jimmy fez um sorriso amarelo, abriu a boca várias vezes para falar e finalmente optou por uma abordagem oblíqua do assunto.
— Como o senhor sabe, Comandante, participei das Olimpíadas Lunares no ano passado.
— Pois claro. Lamento que não tenha ganho.
— Questão de mau equipamento. Eu sei qual foi a falha. Tenho amigos em Marte que estiveram trabalhando no aparelho, em segredo. Queremos dar uma surpresa a todo mundo.
— Marte? Mas eu não sabia…
— Não são muitos os que sabem. O esporte ainda é novo ali; até agora, só foi experimentado no Estádio Xante. Mas os melhores aerodinamicistas do Sistema Solar estão em Marte; quem pode voar naquela atmosfera, pode voar em qualquer lugar.
«Bem, a minha idéia foi que, se os marcianos pudessem construir uma boa máquina, com todo o seu know-how, ela realmente voaria na Lua, onde a gravidade tem apenas metade da força.”
— Isto parece plausível, mas de que nos serve?
Norton estava começando a adivinhar, mas queria dar bastante corda a Jimmy.
— Bem, fiz sociedade com alguns amigos em Lowell City. Eles construíram uma máquina voadora perfeitamente aerobática, com alguns aperfeiçoamentos que ninguém viu até hoje. Na gravidade lunar, sob o Domo Olímpico, deve causar sensação.
— E ganhar para você a medalha de ouro.
— Assim espero.
— Vamos ver se eu sigo corretamente o seu raciocínio. Uma bicicleta celeste que pôde participar das Olimpíadas Lunares, a um sexto de gravidade, seria mais sensacional no interior de Rama, onde a gravidade é zero. Você poderia voar com ela ao longo do eixo, do Pólo Norte ao Pólo Sul… e vice-versa.
— Sim, facilmente. A travessia simples levaria três horas de vôo ininterrupto. Mas está claro que o ciclista poderia descansar onde quisesse, contanto que não saísse das proximidades do eixo.
— A idéia é brilhante. Meus parabéns. É pena que as bicicletas celestes não façam parte do equipamento regular da Observação Espacial.
Jimmy pareceu ter uma certa dificuldade em encontrar palavras com que se expressar. Abriu a boca várias vezes, mas não dizia nada.
— Muito bem, Jimmy. Por uma questão de interesse mórbido e estritamente entre nós, me diga como foi que introduziu o aparelho a bordo.
— Hã… «Material Recreativo».
— Bom, mentindo não estava. E quanto ao peso?
— Apenas vinte quilogramas.
— Apenas! Enfim, não é tão mau como eu pensava. Estou mesmo assombrado de ver que se pode construir uma bicicleta com esse peso.
— Algumas só pesavam quinze, mas eram muito frágeis e em geral se dobravam ao fazer uma curva. Não há perigo de acontecer isso com a Libélula. Como já disse, ela é perfeitamente aerobática.
— Libélula… Bonito nome. Pois bem, agora me diga como pensa usá-la; depois verei o que é mais indicado no caso, se uma promoção ou um conselho de guerra… ou ambos.