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CAPÍTULO XV

Dr. Mannen chegou, gemeu piedosamente perante a bateria de visores e luzes intermitentes e depois, suavemente, tomou a seu cargo a direcção da evacuação. Conway não poderia ter desejado melhor substituto. Estava a preparar-se para se retirar quando Mannen aproximou o rosto de um dos visores e disse: — Hummf!

Conway deteve-se e perguntou: — Que é?

— Nada, nada — disse Mannen, sem se voltar. — Acontece apenas que começo a perceber porque é que quer ir lá abaixo.

— Mas eu disse-lhe porquê! — Explodiu Conway. Saiu furioso, a dizer a si próprio que Mannen estava a dizer coisas sem sentido num momento em que as conversas desnecessárias eram um crime. Depois perguntou a si próprio se o velho Dr. Mannen estava fatigado ou estava sob a acção dei qualquer gravação que o confundisse, e sentiu-se subitamente envergonhado. Mas não tardou a ter muito que fazer para sentir qualquer vergonha.

Três horas depois, o estado de confusão à sua volta parecia ter dobrado, ainda que na verdade acontecesse que se estava a trabalhar a dobrar, ao dobro da velocidade. Mas o trabalho estava a ser feito, e multo mais rapidamente do que Conway alguma vez pensara ser possível.

No corredor, atrás dele, avançava urna lenta procissão de Mensanos, alguns com roupas protectoras e os mais gravemente doentes em tendas de pressão que cobriam os seus leitos. Eram cuidados por enfermeiros humano-terrestres e Kelgianos. A transferência decorria agora ordeiramente, mas meia hora antes Conway duvidara de que isso fosse possível…

Quando as grandes tendas de pressão passavam através da secção AUGL, cheia de água, tinham inchado como grandes bolhas dei cloro, pegando-se ao tecto. Fora impossível arrastá-las porque as excrescências do tecto e as canalizações teriam rasgado os invólucros, e não teria sido prático levar cinco ou seis enfermeiros a servirem de contrapeso, para as fazerem descer. E quando ele trouxera um transportador de macas do piso superior — os veículos podiam teoricamente mover-se debaixo de água — com a ideia de segurar os doentes que flutuavam e, simultaneamente, deslocá-los mais depressa, a caixa de uma bateria rebentara e o transportador tornara-se no centro de uma massa de água sibilante e borbulhante que rapidamente se tornara negra.

Conway não ficou — surpreendido ao ouvir que o doente que estava a ser transportado nesse veículo tivera uma recaída.

Finalmente resolvera o problema com um magnífico relâmpago de inspiração, que devia ter surgido dois segundos depois de o problema ter começado, mas não surgira. Regulou rapidamente as grelhas de gravidade artificial, passando-as a atracção zero, e então as tendas perderam a sua flutuabilidade. Isso obrigou os enfermeiros a nadarem em vez de caminharem com os pacientes, mas era uma coisa sem importância.

Foi durante a transferência desses FVSJ que Conway compreendeu a razão do «hummf» de Mannen: a Murchison era uma das enfermeiras de serviço. Ela não o reconhecera, mas ele sabia que só havia uma pessoa que pudesse encher daquela maneira um fato ligeiro de pressão. No entanto não lhe falou — não era o momento nem o lugar adequado.

O tempo passou apressadamente sem quaisquer outras crises graves. Na Escotilha Cinco, a nave-hospital kelgiana estava pronta a partir, aguardando apenas que uma parte do pessoal superior do Hospital entrasse a bordo, e que uma nave dos Monitores a escoltasse até uma distância segura para o «salto». Recordando-se de que algumas das criaturas que; iam partir eram suas amigas, Conway decidiu aproveitar aquele momento de acalmia para se despedir delas. Telefonou a Mannen para lhe dizer para onde ia e dirigiu-se para a Escotilha Cinco.

Quando lá chegou, a nave kelgiana já partira. E o corredor estava quase obstruído por uma esfera de gelo que aumentava constantemente de diâmetro.

A nave de Gregory continha, um compartimento especial, refrigerado, para as criaturas SNLU, que eram frágeis, cristalinas, baseadas na metana, e que teriam ficado cremadas se a temperatura subisse a menos cento e oitenta. O Geral do Sector estava a tratar sete dessas criaturas e elas tinham sido encerradas numa esfera refrigerada, de três metros de diâmetro, para a transferência. Por causa das dificuldades previstas no transporte tinham sido os últimos pacientes enviados para a nave gregoriana.

O’Mara isso era necessário que atravessassem catorze pisos, desde a enfermaria!de metana até ao ponto de embarque na Escotilha Dezasseis. Em todos os outros pisos os corredores eram largos e cheios de ar ou cloro, de modo que a esfera apenas adquirira uma camada de geada dia atmosfera circundante. Mas na AUGL está. a cobrir-se de gelo. Rapidamente.

Conway sabia que aquilo tinha de acontecer, mas não o considerara importante porque a esfera não estaria no corredor cheio de água o tempo suficiente para causar um problema. Mas um dos cabos (de reboque quebrara-se e embaraçara-se em qualquer conduta, de modo que poucos segundos depois tinham ficado soldados com gelo. Agora a esfera estava envolvida numa camada de gelo de mais de um metro de espessura e mal havia espaço para passar por cima ou por baixo dela.

— Tragam maçaricos de corte, depressa! — berrou Conway a Mannen.

Três homens do Corpo chegaram um momento antes de o corredor ficar completamente bloqueado. Com as chamas dos maçaricos na dispersão máxima lançaram-se sobre a massa de gelo. No espaço confinado do corredor a água começou a aumentar de temperatura, e os fatos deles, tal como o de Conway, não tinham unidades» refrigeradoras. Conway começou a compreender o que sentiam as lagostas, quando cozidas vivas. E a grande massa de gelo eira um perigo para a vida e para a integridade física — era possível ser esmagado entre ela e a parede do corredor, e naquela água escaldante e quase opaca era também demasiado fácil colocar um braço ou uma perna entre o gelo e um maçarico» de corte.

Mas por fim o trabalho foi feito. O contentor com os seus ocupantes SNLU foi manobrado através da escotilha inter-pisos até outra secção cheia de ar. Conway esfregou a mão no exterior do capacete, numa tentativa inconsciente para limpar o suor da testa e perguntou a si próprio que mais dificuldades iriam surgir. A resposta» segundo o Dr. Mannen, na Recepção, foi a de que tudo estava a decorrer em ordem.

Os pacientes dos três pisos DBLF tinham partido na nave kelgiana, disse Mannen, entusiasmado. As únicas lagartas que permaneciam no Hospital pertenciam ao pessoal de enfermagem. Entretanto os três cargueiros illensanos tinham evacuado os respiradores de cloro das enfermarias PVSJ. Dos respiradores ide água, os AUGL e os ELNT já tinham saído e os SNLU no seu pequeno icebergue estavam exactamente a embarcar. Catorze pisos tinham sido evacuados e ninguém diria que houvesse sido um mau dia de trabalho.

Conway estava a nadar, fatigado, para a escotilha inter-pisos, a pensar num bom bife e num bom sono, quando aquilo aconteceu.

Qualquer coisa que ele não viu, bateu-lhe de uma maneira selvagem. Atingiu-o simultaneamente no abdómen, no peito e nas pernas — os lugares onde o fato era mais apertado. Dentro dele surgiu uma agonia que era como uma explosão vermelha, contida apenas pelo seu corpo. Dobrou-se sobre si próprio e começou a perder os sentidos. Quis morrer e quis desesperadamente vomitar, mas qualquer pequena porção do seu corpo que não fora afectada pela dor e pela náusea, insistiu em que ele não devia vomitar, que vomitar dentro do capacete era uma maneira horrível de morrer…

A pouco e pouco, a dor diminuiu e tornou-se suportável. Conway continuava a sentir-se Como se um Tralthano lhe houvesse dado um coice com as Seis patas, nas virilhas, mas outras coisas começavam a tornar-se notadas. Ruídos fortes, borbulhantes, e a visão extremamente estranha de um Kelgiano a flutuar na água sem as suas vestes protectoras. Um segundo olhar mostrou-lhe que a criatura tinha um fato, mas ele fora rasgado e estava cheio de água.

Mais em baixa, no tanque AUGL dais outros Kelgianas flutuavam, os seus longos, macios e peludos corpos abertos da cabeça à cauda, com os pormenores mais horríveis escondidos piedosamente por uma névoa vermelha que ia aumentando. E sobre a parede oposta do tanque havia uma área de turbulência em torno de um buraco escuro e irregular, através do qual a água parecia estar a sair…

Conway praguejou, Pensou que sabia o que acontecera. O que quer que tivesse feito aquele buraco expendera também, por causa da não-compressibilidade da água, a sua força nos infortunados ocupantes do tanque. Mas porque ele e o outro Kelgiano estavam, em cima, no corredor, tinham escapada aos piores efeitos.

Ou talvez só um tivesse escacado…

Demorou três minutos a arrastar o enfermeiro Kelgiano até à escotilha, a dez metros de distância. Uma vez dentro, pôs as bambas a trabalhar para esgotar a água, abrindo simultaneamente uma válvula de ar. Mas quando a água se esgotou Conway verificou que na criatura não havia sinais de pulso ou respiração. Conway deitou-a no chão, abriu o terceiro e quarto par de pernas de modo a poder colocar o ombro no espaço entre elas, e depois, com os pés bem apoiados na parede aposta, começou a empurrar ritmicamente. Ao fim de alguns segundos começou a escorrer um fio de água da boca do DBLF.

Parou subitamente quando ouviu alguém a tentar abrir a escotilha do lado do corredor AUGL. Conway tentou a rádio mas os seus aparelhos não funcionavam. Tirou o capacete, encostou a boca à junta estanque e gritou: — Está aqui um respirador de ar sem junta estanque; não abra a porta, senão morreremos afogados! Venha pelo outro lado!

Poucos minutos depois, abriu-se a escotilha do lado do ar e a Murchison apareceu a olhar do alto para baixo. Ela disse: — D… Dr. Conway… — num tom peculiar.

Conway levantou-se subitamente, batendo com o ombro no ventre do Kelgiano, perto dos pulmões dele, e disse: — Que há?

— Eu… Tu… A explosão… — Depois, o tom dela tornou-se mais firme. — Houve uma explosão. Doutor. Um dos enfermeiros DBLF está ferido, tem lacerações severas devido a um pedaço de chapa do pavimento que foi bater contra ele. Coagulámos o sangue imediatamente mas não creio que aguente. E o corredor onde ele se encontra está a ser inundado; a explosão deve ter aberto caminho até à secção AUGL. A pressão do ar está também a baixar um pouco e devemos ter uma abertura para o espaço em qualquer lado. Além disso há um cheiro forte a cloro…

Conway gemeu e deixou de se esforçar com o Kelgiano, mas antes que ele pudesse falar, a Murchison acrescentou apressadamente: — Todos os médicos Kelgianos foram evacuadas e os únicos DBLF que restam é este e um par que deve andar por a por qualquer parte, mas pertencem à enfermagem…

Que problema! pensou Conway. Contaminação e ameaça de descompressão. A criatura ferida tinha de ser retirada rapidamente, porque se a pressão baixasse demasiado as portas estanques baixariam e se o paciente estivesse do lado «inconveniente» delas isso seria multo mau. Além do que a ausência de um Kelgiano qualificado Significava que ele teria de absorver uma gravação fisiológica Kelgiana e fazer ele próprio o trabalho, o que implicava uma visita rápida ao gabinete de O’Mara. Mas primeiro teria de ver o paciente.

— Trata deste, por favor — disse ele, apontando para o corpo encharcado, no chão. — Creio que está a começar a respirar por si próprio, mas dá-lhe mais uns dez minutos… — Apesar de tudo, o facto de a ver ali, naquelas roupas desmoralizantemente justas ao corpo, fez com que se reduzisse por um instante a preocupação com os pacientes, as evacuações e as gravações de fisiologia. Mas a humidade que cobria o fato dela recordou-lhe que a Murchison estivera no tanque AUGL também, poucos minutos antes da explosão, e ele teve uma visão terrível daquele corpo adorável estoirado como os dos dois pobres DBLF…

— Entre o terceiro e o quarto par de pernas, e não entre o quinto e o sexto! — Disse ele, numa voz rouca, quando se voltou para sair.

Mas não fora isso o que ele quisera dizer.