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CAPÍTULO XX

Conway pensara que nada o poderia fazer sentir-se pior que a compreensão de que poucas horas antes o sistema do Tradutor deixara de funcionar. Não queria aquela responsabilidade — só de pensar nela sentia um medo de morte. No entanto houvera ocasiões em que sonhara ser o director do Geral do Sector. Mas nesses sonhos o Hospital nunca fora um monstro moribundo., despedaçado pela guerra e paralisado pela falta de comunicações, nem se apresentara eriçado de armas mortíferas, nem estivera criminosamente falto de pessoal e sobrecarregado de pacientes.

Provavelmente, só em circunstâncias como aquelas alguém como ele poderia ser director de um hospital como aquele. Não era o melhor homem; era apenas o único disponível.

Olhou em volta, para a enfermaria ordenada, com as suas filas de leitos Tralthanos e humano-terrestres. Subitamente, disse a O’Mara: — Tenho uma ideia. Não é boa e creio que devamos falar sobre ela no seu gabinete, porque, provavelmente, levantará objecções contra ela, em voz alta, e perturbará os meus pacientes.

O’Mara fitou-o com dureza, mas quando falou a fúria sara da sua voz, que se tornara normalmente sarcástica. — Todas as suas ideias são discutíveis, Doutor.

Quando se dirigiam para o gabinete de O’Mara passaram por um grupo de oficiais de alta patente, dos Monitores, e o major disse-lhe que faziam parte do Estado-Maior de Dermod, o qual se preparava para instalar o comando táctico no Hospital. De momento, Dermod comandava a partir da Vespasiam. Mas até as naves de batalha estavam a passar um mau bocado, e o comandante da Armada já vira a Domitian quase desaparecer sob os seus pés…

Quando chegaram, Conway disse: — A ideia não é grande coisa e ao ver aqui estes oficiais tive uma melhor. E se pedíssemos a Dermod para nos deixar usar os Tradutores da sua nave?

O’Mara abanou a cabeça e disse: — Não resultará. Também tive essa ideia. Parece que os únicos Tradutores cujos computadores nos poderiam ser úteis estão nas naves grandes e fazem parte integral da estrutura, de modo que seria necessário desmantelar as naves para os retirar. Além disso, para as nossas necessidades mínimas, precisamos de vinte computadores de naves de batalha. Não nos restam vinte naves de batalha e Dermod diz que tem um uso muito melhor para os que ainda temos.

«Agora qual era a sua ideia não muito boa?»

Conway disse-lhe qual era.

Quando acabou, O’Mara olhou para ele firmemente durante quase um minuto. Por fim disse: — Considere que apresento também objecções às suas ideias — e fortemente. Considere, se quiser, que eu me pus aos pulos o a dar socos na secretária, porque seria isso que eu faria se não estivesse terrivelmente fatigado. Não compreende onde que se está a meter?

De baixo veio o ruído de um choque e de metal a rasgar-se, com sons ridículos, ressoantes. Conway estremeceu involuntariamente e disse: — Também tenho receio. Haverá muita confusão e incómodo mental, mas espero evitar o pior deixando que a entidade gravada me domine completamente até que eu tenha o que pretendo. Depois suprimi-la-ei e farei a tradução. Foi assim que as coisas resultaram com a gravação Tralthana e não há razão para que não resulte com a DBLF ou quaisquer outras. A linguagem DBLF deve ser fácil — é mais fácil gemer como um Kelgiano que trombetear como um Tralthana…

Continuou a expor pormenores do seu plano até que O’Mara disse: — Um momento. Você não faz outra coisa senão falar de deixar uma personalidade emergir, e depois suprimi-la para destacar duas em conjunto, e assim por diante. Talvez acabe por verificar que não tem muito domínio. Ê difícil trabalhar com múltiplas gravações fisiológicas, e você nunca trabalhou com mais de duas ao mesmo tempo. Tenho os seus registos.

O’Mara hesitou por um momento e depois prosseguiu, num tom grave: — O que você receberá são as memórias registadas de um extraterrestre comi alta posição na profissão médica, no seu planeta natal. Não é uma entidade alienígena lutando pela posse do seu cérebro, mas porque a memória e a personalidade dele estão impressas ao longo da sua, você poderá ser levado a pensar, em pânico, que ela está a tentar dominá-la. Algumas das gravações foram obtidas de indivíduos muito agressivos…

«Acontecem coisas estranhas aos médicos que tornam um certo número de gravações a longo prazo, pela primeira vez. Dores, afecções de pele, talvez deficiências do funcionamento orgânico. Tudo isso tem uma base psicossomática, mas para as pessoas afectadas os males são muito reais. Essas perturbações podem ser dominadas, e até anuladas, por um espírito forte. No entanto um espírito apenas forte acabará por sucumbir ao fim de algum tempo, é necessária flexibilidade aliada à força, qualquer coisa que actue como uma âncora mental, qualquer coisa que você terá de descobrir por si próprio…

«Supondo que concordo com isso, quantas gravações precisaria? — concluiu ele, abruptamente.

Conway pensou rapidamente. Tralthano, Kelgiano, Melfano, Indiano — as plantas ambulatórias que ele encontrara antes de ir para Etla e que tinham também permanecido, e os monstros que Mannen estivera a tratar antes de ser abatido. Disse: — FGLI, DBLF, ELNT, DBDG-Nidiano, AACP e QOLCL. Seis…

O’Mara comprimiu os lábios. — Não me importaria se fosse um diagnosticador a fazer isso porque eles estão habituados a partir os miolos em seis pedaços. Mas você é apenas…

— O médico mais graduado do Hospital — concluiu Conway, com um sorriso.

— Hum — disse O’Mara.

No silêncio puderam ouvir vozes humanas e um ruído estranho, alienígena, no corredor, lá fora. Quem estava a fazer o barulho devia estar a gritar muito alto porque o gabinete do major era, segundo se supunha, anti-ruídos.

— Muito bem — disse O’Mara, subitamente. — Pode tentar isso. Mas eu não quero tratar do assunto na minha capacidade profissional, e há uma possibilidade muito mais forte do que você parece pensar. Estamos demasiado precisados de médicos para o termos a si imobilizado numa camisa-de-forças, de modo que vou pôr um cão de guarda a seu lado. Acrescentaremos um GLNO A sua lista.

— Prilicla!

— Sim. Sendo um empata, tem passado um mau bocado com a espécie de radiação emocional que apareceu por a nos últimos dias, e tive de o colocar sob a acção de sedativos. Mas ele poderá vigiá-lo mentalmente, e ajudá-lo também. Deite-se para o sofá.

Conway deitou-se e O’Mara colocou o capacete. Depois, o major começou a falar suavemente, fazendo por vezes perguntas, outras vezes falando, simplesmente. Conway, procurando manter os olhos abertos, disse: — Não será muito difícil. Picarei em qualquer parte apenas o tempo bastante para aprender algumas palavras básicas e frases que eu possa ensinar ao pessoal de enfermagem. O bastante para que compreendam quando um cirurgião alienígena disser: «escalpelo», ou «fórceps», ou outras coisas…

Despertou num compartimento que era demasiado grande e demasiado pequeno de seis maneiras diferentes e ao mesmo tempo inteiramente familiar. Não se sentia repousado. Agarrado ao tecto por seis pernas muito finas havia uma criatura pequena, enorme, frágil, bela, nojenta, que parecia um insecto e que lhe lembrava os seus piores pesadelos e os cllels anfíbios que ele costumava caçar no fundo do seu lago privado para o pequeno-almoço, e muitas outras coisas, incluindo um GLNO Cinrusskino perfeitamente vulgar, que começava a tremer ligeiramente perante a radiação emocional que ele estava a produzir. Todo ele sabia que os GLNO de Cinruss eram empatas.

Lutando para subir até à superfície de um turbilhão de pensamentos, memórias e impressões alienígenas, Conway decidiu que era tempo de trabalhar. Prilicla estava ali, imediatamente disponível para o primeiro ensaio da sua ideia. Começou a procurar entre uma imensidade de dados alienígenas o conhecimento da língua Cinrusskina.

Não, não era a linguagem Cinrusskina — era a sua língua. Tinha de pensar, sentir e escutar como um GLNO. A pouco e pouco começou a fazê-lo…

O não foi nada agradável.

Ele era um Cinrusskino, um membro de uma espécie de empatas, de baixa gravidade, frágil, semelhante a um insecto. O belo exosqueleto, com as suas marcas delicadas, e o brilho jovem, irisado», das asas nada atrofiadas de Prilicla eram agora coisas que ele podia apreciar devidamente, assim como a maneira como as mandíbulas de Prilicla tremiam numa súbita preocupação pelos seus problemas. Porque ele recordava-se de ter um contacto empático, recordava-se de o ter tido durante toda a sua vida, mas agora era pouco mais que um surdo-mudo.

O seu cérebro humano não possuía a faculdade empática e não se sentia melhor enchendo o espírito com memórias de a ter tido.

Prilicla emitiu uma série de estalidos e zumbidos. Conway, que nunca falara com o GLNO senão por meio do processo átomo e filtrador de emoções que era o «Tradutor», ouviu-o dizer: — Lamento muito — numa voz cheia de preocupação e piedade.

Em troca, Conway tentou imitar a suave combinação de trinados e estalidos que era o nome de Prilicla. A quinta tentativa conseguiu fazer qualquer coisa próxima do ruído que ele pretendia imitar.

— Isso é muito bom, amigo Conway — disse Prilicla, num tom caloroso. — Não tinha considerado possível esta tua ideia. Entendes o que eu digo?

Conway procurou as palavras-sons de que necessitava e depois, cuidadosamente, começou a formá-las. Disse: Obrigado — e — Sim.

Tentaram frases mais difíceis — desde palavras técnicas até obtusos pormenores médicos e fisiológicos. Na melhor das hipóteses era uma grosseira deformação do Cinrusskino, mas ele perseverou. Depois, subitamente, houve uma interrupção.

Uma voz falou do comunicador da sala. — Fala O’Mara. Você já deve ter acordado, Doutor, portanto aqui estão as últimas. Continuamos a ser atacados, mas isto melhorou um pouco porque chegaram mais voluntários extraterrestres para nas reforçarem. São Melfanos, mais alguns Tralthanos e uma força de Ilhensanos, respiradores de cloro. Portanto você vai ter também PVSJ para se preocupar. E dentro do Hospital…

Deu-lhe uma lista detalhada dos feridos e do pessoal disponível, com os problemas peculiares a cada secção e o seu grau de urgência.

— … Você é que sabe por onde deve começar, e quanto mais depressa o fizer, melhor será — disse O’Mara. — Mas no caso de ainda se sentir confundido repita…

— Não é preciso. Entendi tudo.

— Muito bem. Como se sente?

— Terrível. Horrível. E muito peculiar.

— Isso é sob todos os aspectos uma reacção normal — disse O’Mara, secamente.

Conway desapertou as correias que o prendiam ao leito. Algumas das criaturas que habitavam o seu cérebro sentiram-se aterrorizadas perante a ausência de peso e a sua reacção foi instintiva. Teve um momento de pânico quando verificou que os seus pés não se pegavam ao tecto, como os de Prilicla. E quando largou a borda do leito notou que estivera agarrado a ele com um apêndice pálido, flácido, horrivelmente diferente dos elegantes e duros contornos da mandíbula que ele esperara ver. Mas, fosse como fosse, ele conseguiu atravessar a sala até ao corredor e avançar nele uns cinquenta metros.

Depois foi detido.

Um maqueiro furioso, com o uniforme verde do Corpo, queria saber de que enfermaria viera ele e porque estava fora da cama. A linguagem do homem era colorida e nada respeitosa

Conway teve então consciência do seu corpo enorme, gordo, frágil, nojento e rosado. Um corpo perfeito, mas também uma monstruosidade informe, que, no lugar de onde saíam os dois apêndices inferiores, estava rodeado por um pedaço de pano branco que, aparentemente, não servia para nada. O corpo parecia ridículo e alienígena.

Demónio! pensou Conway, lutando contra um asfixiante conjunta de impressões alheias. Esqueci-me de vestir.