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CAPÍTULO XXI

O primeiro acto de Conway foi o de instalar um representante de cada espécie na sala d)e Comunicações. Uma espécie de ordem fora conseguida colocando homens do Corpo junto de cada intercomunicador, para proibir o seu uso aos extraterrestres. Isso significava que só o pessoal humano-terrestre podia comunicar entre si. Mas com os extraterrestres na central, as chamadas das outras espécies podiam; ser respondidas e orientadas. Conway passou quase duas horas a estabelecer ligação com os operadores dos intercomunicadores e a imaginar urna lista de sinónimos que lhes permitisse trocar mensagens simples — muito simples. Tinha dois peritos de línguas, dos Monitores, com ele, e foram eles quem lhe sugeriu que fizesse uma gravação da sua «pedra de Rosetta» de sete faces, e preparasse outras segundo as condições que ele encontrasse nas enfermarias.

Para onde quer que ele fosse, era acompanhado por Prilicla, pelos peritos linguísticos, por um técnico de rádio do Corpo e pelo pessoal de enfermagem que acumulava de tempos a tempos. Era uma procissão impressionante, mas Conway não estava em condições de a apreciar.

A falta de enfermeiros de todas as espécies era «irónica. Quanto aos médicos, a posição era desesperada, inalou O’Mara:

— Não temos médicos suficientes. Creio que os enfermeiros podem actuar com mais liberdade no diagnóstico o tratamento dos ferimentos. Devem fazer o que pensam ser o melhor, sem esperar pela autorização de um médico que, de resto, está por norma demasiado atarefado para exercer qualquer vigilância. Os feridos continuam a chegar e eu não vejo outra maneira…

— Faça isso. Você é que é o patrão — disse-lhe O’Mara, num tom duro.

— Muito bem. Outra coisa: tenho tido ofertas de uma porção de médicos para tomarem duas ou três gravações para fins de tradução, além da que eles estão a usar para as operações correntes. E alguma das garotas apresentaram-se como voluntárias…

— Não! — berrou O’Mara, — Tive aqui alguns desses voluntários e não servem. Os médicos que nos ficaram ou são internos muito novos ou médicos do Corpo e extraterrestres que vieram com as forças voluntárias. Nenhum deles tem experiência de gravações fisiológicas múltiplas. Ficariam loucos, logo na primeira hora.

«Quanto às garotas, você deve ter notado que as fêmeas DBDG humano-terrestres têm um espírito muito peculiar — disse ele com um tom sardónico. Uma das suas peculiaridades é uma profunda fastigfosidade, baseada no sexo. Digam elas o que disserem, nunca deixarão que seres estranhos dominem aparentemente os seus miolinhos. Se isso» acontecesse, haveria severos danos mentais. Não!»

Conway continuou a sua visita de inspecção. Começava a sentir-se fatigado. Ainda que a sua técnica se fosse aperfeiçoando, a Tradução era cada vez mais penosa. E nos períodos relativamente calmos em que não se ocupava disso sentia-se como se sete pessoas diferentes discutissem e gritassem dentro do seu cérebro e a sua voz raras vezes era a que gritava mais. Além do que se sentia rouco por fazer sons para os quais a sua garganta não fora concebida. E estava esfomeado.

As sete criaturas que ele era tinham ideias diferentes para matar a fome. Como os serviços de cozinha do Hospital tinham sofrido tanto como os outros, não era possível arranjar uma ementa neutra, ou que peio menos não repugnasse por completo aos seus alter-egos. Teve de comer sanduíches com os olhos fechados para não ver o que elas continham, e beber água e glicose. A água era a única coisa que todos aceitavam.

Conway pensou que, agora que já se estabelecera de novo uma organização para a recepção e tratamento dos feridos, havia que pôr em movimento aqueles que enchiam as áreas em torno das escotilhas. Segundo lhe haviam dito, até havia macas de pressão presas ao exterior do casco.

Prilicla protestou.

Uma das objecções era a de que Conway estava demasiada fatigado — mas isso acontecia com toda a gente no Hospital. As outras eram muito fracas ou subtis para serem entendidas por aquele meio de comunicação. Conway ignorou-as e dirigiu-se para a escotilha mais próxima. Uma vez ali, descobriu que se podia mover muito mais rapidamente: os homens dos raios tractores que tratavam dos destroços acumulados em torno do Hospital podiam transferir todo o seu grupo de um ponto para outro em poucos segundos.

Mas então notou também que a parte Melfana do seu espírito, que ficara perturbada pela ausência de peso dentro do Hospital se sentia inteiramente aterrorizada fora dele. O ELNT melfano que produzira a gravação era uma criatura anfíbia, semelhante a um caranguejo, que vivera a maior parte do tempo debaixo de água e não tinha experiência alguma do espaço. Conway teve que lutar contra o pânico que ameaçava todo o seu cérebro, assim corno contra o medo da batalha que se travava por cima da sua cabeça.

O’Mara dissera-lhe que o ataque estava a diminuir de Intensidade, mas Conway não podia imaginar nada mais selvagem do que aquilo que via.

Entre as naves não eram usados mísseis — atacantes e defensores estavam demasiado próximos, inextrincavelmente misturados. Como pequenos modelos, muito rápidos, tão visíveis que lhe parecia poder estender a mão o agarrar um, as naves giravam numa dança louca, caótica. Entre elas, os raios tractores e pressores estendiam-se como dedos sólidos, invisíveis, detendo ou desviando as naves alvos, para que um matraqueador pudesse ser focado sobre elas. Por vezes, três ou mais naves convergiam sobre um alvo único e despedaçavam-no em segundos. Outras vezes, um matraqueador bem apontado inutilizava o sistema de gravidade artificial um momento antes de estoirar com o propulsor. Com a tripulação agoniada pela alta aceleração, a nave trambolhava no espaço, fora de combate, até alguém apontar outro matraqueador sobre ela ou um raio tractor, no casco de Hospital do Sector, o puxar para baixo em busca de sobreviventes.

E quer houvesse ou não sobreviventes, o casco podia vir a ser usado… A superfície externa do Hospital, outrora lisa e brilhante, era uma massa de crateras profundas, rebordos irregulares e chapas retorcidas. E como os mísseis batiam duas e até três vezes no mesmo lugar fora assim que o computador do Tradutor fora destruído — as crateras estavam a ser obturadas com destroços num esforço para impedir que os mísseis explodissem mais profundamente, no interior do Hospital. Qualquer tipo de destroços servia e os homens dos raios tractores não se preocupavam com escolhas.

Conway estava numa posição de raios tractores quando um dos destroços foi atracado. Viu a equipa de socorro sair da escotilha, dar volta ao casco comi muito cuidado e depois entrar. Cerca de dez minutos depois saram a rebocar… qualquer coisa.

— Doutor — disse o sargento encarregado da instalação. — Creio que fiz um disparate. Os meus homens dizem que o monstro que tiraram dos destroços é novo para eles e querem que o senhor o veja. Lamento muito, mas os destroços são todos iguais. Não creio que seja um dos nossos…

Era de facto uma espécie nova para o Hospital. O’Mara não tinha por certo qualquer gravação da sua fisiologia e mesmo que o paciente recuperasse a consciência não poderia cooperar porque os Tradutores não funcionavam. Conway tinha de se encarregar daquele caso e ninguém o convenceria do contrário.

A Enfermaria Sete situava-se perto da secção em que um médico militar Kelgiano e a Murchison estavam a fazer maravilhas com uma mistura de pacientes FGLI, QLOL e humano-terrestres; portanto pediu-lhes que o ajudassem, Conway definiu a classificação do recém-chegado como TELHA, e foi ajudado nisso pelo facto de o fato de pressão do paciente ser transparente e flexível. Se o fato fosse menos flexível os ferimentos da criatura teriam sido menos severos, mas então o fato teria estalado, em vez de se dobrar com a força a que fora submetido.

Conway abriu um pequeno furo no fato, retirou uma amostra da atmosfera interior e depois obturou o buraco. Colocou a amostra no analisador.

E pensava eu que a dos QLCL era má — disse a Murchison quando ele lhe mostrou o resultado. — Mas tentemos reproduzi-la aqui.

Vestiram os fatos operatórios de tipo ligeiro, com os braços e as mãos cobertos por uma película que era como uma secunda pele, O ar foi substituído pela atmosfera do paciente e eles começaram a cortar o fato dele.

O TELHA tinha uma carapaça fina que lhe cobria as costas e curvava para baixo e para dentro, de modo a proteger a área central da sua parte inferior. Quatro grossas pernas com uma só junta projectavam-se das suas secções não cobertas e uma grande cabeça, também com poucos ossos, continha quatro apêndices manipulatórios, dois olhos recolhidos mas extensíveis, e duas bocas, de uma das quais escorria sangue. A criatura devia ter ido atirada contra várias saliências metálicas. A carapaça estava quebrada em seis pedaços e numa zona fora quase estilhaçada. Os estilhaços tinham-se enterrado na carne. O sangue corria abundantemente dessa zona. Conway começou a analisar as lesões internas com o explorador de raios X e poucos minutos depois disse que estava pronto a começar.

Na verdade não estava, mas o paciente sangrava de tal modo que não tardaria a morrer.

O arranjo interno dos órgãos era diferente de tudo quanto ele até então vira, e diferente de tudo quanto constava da experiência das seis personalidades que partilhavam o seu espírito. Mas ele recebeu indicações do QLCL dó metabolismo provável das criaturas que respiravam essa atmosfera tão corrosiva. O Mel fano forneceu-lhe dados sobre os possíveis métodos de exploração da carapaça danificada, e os FGLI, DBLF, GLNO e ASCO também foram úteis. Mas os gritos mentais, impondo cuidado na operação, tornavam trémulas as mãos de Conway, impedindo-o de prosseguir. Os pesadelos e as neuroses dós indivíduos que compartilhavam o seu espírito tornavam-se maiores a cada momento. Nem todas as criaturas que tinham fornecido as gravações tinham experiência hospitalar com alienígenas. Não estavam habituadas a pontos de vista que não fossem os da sua espécie. O que Conway tinha a fazer era recordar-se de que não se tratava de personalidades separadas, mas sim de uma massa de dados alienígenas e de tipos diferentes. Mas sentia-se horrível e estupidamente fatigado e começava a perder o domínio do que acontecia no seu espírito. Mesmo assim, as suas memórias mergulhavam: numa torrente negra. Memórias maliciosas, vergonhosas, secretas, principalmente ligadas ao sexo — e isso em circunstâncias tão alienígenas que ele queria gritar. Subitamente, deu conta de que se dobrara sobre si próprio, a suar, como se houvesse um enorme peso sobre as suas costas.

Sentiu que a Murchison lhe pegara no braço. — Que aconteceu? — Disse ela, aflita. — Precisas de alguma coisa?

Ele abanou a cabeça, porque, por um momento, não soube formar palavras na sua própria língua, mas ficou a olhar para ela durante dez segundos. Agarrou-se aos seus pensamentos humanos sobre a Murchison e durante algum tempo manteve de novo o domínio sobre si próprio. O tempo bastante para acabar de operar o paciente.

Então, subitamente, o seu cérebro foi rasgado em sete pedaços e ele caiu nos abismos mais profundos e negros de sete diferentes infernos. Não soube que os seus membros se tornaram hirtos, dobraram-se ou torceram-se, como se qualquer coisa estranha tivesse tomado posse, em separado, de cada um. Ou que a Murchison o arrastara para fora e o segurara, enquanto Prilicla, com grande perigo da sua vida e os seus frágeis e aracnídeos membros, lhe deu a injecção que o fez adormecer.