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CAPÍTULO V

A seu tempo, o paciente EPLH, que se chamava Lonvellin, recebeu ata e a procissão constante de doentes extraterrestres entregues aos seus cuidados fez com que a memória de Lonvellin se desvanecesse na memória de Conway. Não sabia se o EPLH voltara à sua galáxia ou se continuava a vaguear em busca de boas acções para fazer, e tinha muito que fazer para pensar em qualquer dessas coisas. Mas Conway ainda não acabara o caso do EPLH.

Ou mais precisamente: Lonvellin ainda não se esquecera de Conway…

— Gostaria de se ausentar do Hospital durante uns meses, Doutor? — Disse O’Mara quando Conway se apresentou no gabinete do Psicólogo-Chefe em resposta a uma chamada urgente através das comunicações gerais. — Seriam umas férias… quase.

Conway sentiu que a sua inquietação inicial se tornava em pânico. Tinha urgentes razões pessoais para não sair do hospital durante alguns meses. Disse: — Bem…

O psicólogo ergueu a cabeça e fitou Conway com um par de olhos cinzentos firmes que viam tanto e que abriam os espíritos de uma maneira tão analítica que davam a O’Mara o equivalente a uma faculdade telepática. Disse secamente: — Não se preocupe em agradecer-me, a culpa é sua, por curar doentes tão poderosos e influentes.

Prosseguiu apressadamente: — Ê uma missão importante, Doutor, mas constará principalmente de trabalho de secretaria. Normalmente seria entregue a alguém ao nível de diagnosticador, mas esse EPLH Lonveillin tem estado a trabalhar num planeta que ele diz necessitar urgentemente de assistência módica. Lonvellin requereu ao Corpo de Monitores assistência hospitalar e pediu que você, pessoalmente, dirigisse os aspectos médicos. Aparentemente não é necessário um Grande Intelecto para tal trabalho, mas sim alguém com uma maneira peculiar de olhar para as coisas…

— È muito amável, senhor — disse Conway.

Sorrindo, O’Mara acrescentou: — Já lhe tinha dito que estou aqui para fazer mirrar cabeças e não para as inchar. E agora aqui está o relatório da situação, neste momento… — Passou a Conway o processo que estivera a ler e levantou-se. — Poderá lê-lo quando estiver a bordo. Esteja na Escotilha Dezasseis para embarcar na Vespasian às 21.30, e entretanto espero que trate dos pormenores. E, Conway, não mostre essa cara de quem viu toda a família morta. Muito1 provavelmente ela esperará por si. E se não esperar você terá outras duzentas e dezassete DBDG para caçar depois. Adeus e boa sorte, Doutor.

Fora do gabinete de O’Mara, Conway tentou descobrir como iria preparar tudo nas seis horas que lhe faltavam para o embarque. Tinha de dar uma lição básica de orientação a um grupo de alunos dentro de dez minutos, e era muito tarde para passar o trabalho a outro. Isso ocuparia três das suas seis horas, ou quatro se ele tivesse pouca sorte — e aquele era um dia de pouca sorte. Depois, uma hora para gravar instruções sobre os seus doentes mais graveis, e por fim jantar. Tinha apenas o tempo indispensável para o fazer. Começou a correr para a Escotilha Sete no piso centésimo oitavo.

Chegou à antecâmara da comporta de ar exactamente quando a escotilha interior se abria e enquanto dominava a respiração começou mentalmente a contar os alunos que passavam por ele. Dois DBLF Kelgianos que ondulavam como grandes lagartas prateadas; depois um PVSJ de Illemsa, os contornos do seu corpo membranoso esbatidos pelo nevoeiro de cloro dentro do seu invólucro protector; um octopóide AMSL Creppeliano, respirador de água, cujo escafandro fazia altos ruídos borbulhantes. Eram seguidos por cinco AACP, uma espécie cujos antepassados remotos tinham sido uma espécie de vegetais móveis. Moviam-se lentamente, mas as garrafas de CO2 que tinham consigo pareciam ser a única protecção de que necessitavam. Depois outro Kelgiano…

Quando entraram todos e a escotilha se fechou de novo, Conway falou. Muito desnecessariamente e apenas como um meio de quebrar o gelo, ele disse: — Estão todos?

Inevitavelmente, todos responderam à uma, fazendo com que o Tradutor de Conway emitisse um uivo de oscilações. Suspirando, ele iniciou o processo habitual da sua apresentação e dar boas-vindas aos novos colegas. Foi só no fim dessas formalidades1 corteses que ele conseguiu fazer recordar discretamente os princípios de funcionamento do Tradutor e a conveniência de falarem cada um de sua vez, para não o sobrecarregarem…

Nos seus mundos originais todos eles eram gente muito importante, medicamente falando. Só no Geral do Sector é que eles eram caloiros, e para alguns deles a transição da mestres respeitados a simples alunos podia ser difícil, de modo que era necessário muito tacto quando se tratava com eles, naquela fase. No entanto, mais tarde, quando começassem a habituar-se, poderiam ouvir descomposturas por causa dos seus erros, como toda a gente.

— Proponho que comecemos a nossa visita pela Recepção — disse Conway. — Ê aí que serão tratados os problemas de admissão e tratamento inicial, Depois, desde que o ambiente não exija uma protecção complexa para nós e o estado do doente não seja crítico, visitaremos as enfermarias adjacentes para observar os procedimentos de exame nos pacientes recém-chegados. Se alguém quiser fazer perguntas em qualquer momento, está livre para as fazer.

«No caminho para a Recepção usaremos corredores que deverão estar repletos. Há aqui um complicado sistema de precedência que governa os movimentos do pessoal médico inferior e superior — um sistema que: aprenderão com o tempo. Mas de momento tenham em conta apenas uma regra. Se a criatura que aparecer na vossa frente for maior que vocês, saiam do caminho dela.»

Ia dizer que nenhum doutor no Geral do Sector seria capaz de propositadamente atropelar um colega e matá-lo, mas pensou outra coisa. Muitos extraterrestres não tinham Um sentido de humor e um comentário desses, ainda que inofensivo, podia conduzir a complicações infindáveis. Em vez disso, disse: — Sigam-me, por favor.

Conway ordenou aos cinco AJCP, que eram os que se moviam mais rapidamente no grupo, que o seguissem e estabelecessem o ritmo para os outros. Depois iam os dois Kelgianos cujo andar ondulante era apenas um, pouco mais rápido que o das formas vegetais que o seguiam. O respirador de cloro vinha atrás e o octopóide Creppeliano vinha no fim de modo que os ruídos do seu escafandro davam a Conway uma indicação audível de que a sua cauda de cinquenta metros estava inteira.

Enfileirados corno estavam, não fazia sentido que Conway lhes falasse, de modo que fizeram a primeira parte da sua viagem em silêncio — subiram três rampas e passaram por cerca de duzentos metros de corredores direitos e angulares. A única pessoa que encontraram na direcção oposta foi um Nidiano que usava uma braçadeira indicando que era um interno de dois anos. Os Nidianos tinham em média um metro e vinte de altura, de modo que ninguém esteve em perigo de ser esmagado. Alcançaram a escotilha interna que dava acesso à secção dos respiradores de água.

No vestiário anexo Conway dirigiu o aprontamento dos dois Kelgianos e depois envergou Um fato ligeiro. Os AAOP disseram que o seu metabolismo vegetal lhes permitia existir debaixo de água durante longos períodos sem protecção. O Illensano estava já protegido contra o ar carregado de oxigénio de modo que a água igualmente venenosa não o preocupava. Mas o Creppeliano era um respirador de água e queria tirar o seu escafandro — tinha oito pernas e precisava de as esticar, segundo dizia. Mas Conway proibiu-o de fazer isso, lembrando que só iria estar na água quinze minutos, no máximo.

A escotilha abriu-se para a enfermaria AUGL principal, um grande tanque sombrio com água verde, tépida, com sessenta metros de profundidade e cerca de cento e cinquenta de largura. Conway descobriu rapidamente que levar os alunos da escotilha para a entrada do corredor, no outro lado, era corno tentar mover um, rebanho em três dimensões através de geleia verde. Com, a única excepção do Creppeliano tinham todos perdido o seu sentido de direcção na água logo nos primeiros momentos. Conway teve de nadar freneticamente à sua volta, gesticulando e gritando ordens, e apesar dos elementos1 refrigeradores e desumidificadores no seu fato; o interior tornou-se bem depressa corno um banho turco sobreaquecido. Algumas vezes perdeu a calma e dirigiu as suas acusações para outro lugar que não a entrada do corredor.

E durante um momento particularmente caótico, um paciente AUGL, um dos nativos de Chalderescol II semelhantes a peixes, couraçado, com doze metros de comprimento — nadou pesadamente para eles. Aproximou-se até cinco metros, causando um quase pânico entre os AACF, disse: — Estudantes! — e afastou-se. Os Chalderescolenses eram notoriamente anti-sociais durante a convalescença, mas o incidente também não ajudou Conway a manter a calma.

Pareceu terem-se passado muito mais de quinze minutos quando se reuniram no corredor do outro lado do tanque. Conway disse: — A trezentos metros ao longo deste corredor está a escotilha de transferência para a secção de oxigénio1 da Recepção, que é o melhor lugar para ver o que acontece aqui. Aqueles entre vocês que usam protecção contra a água (deverão despir os fatos, os outros deverão sair imediatamente…

Enquanto nadava com eles para a escotilha, o Creppe11iano disse a um dos AAQP: — O nosso, segundo dizem, está cheio de vapor sobreaquecido, mas é necessário que se tenha feito algo muito mau para sermos enviados para lá — Ao que o AACP respondeu: — O nosso Inferno também é quente, mas nele não há qualquer humidade…

Conway esteve prestes a pedir desculpa por ter perdido a calma no tanque, temendo haver ofendido alguns sentimentos extraterrestres, mas era óbvio que eles não tinham tomado muito a sério o que ele dissera.