40335.fb2 Um - читать онлайн бесплатно полную версию книги . Страница 15

Um - читать онлайн бесплатно полную версию книги . Страница 15

14

Lá embaixo estendiam-se os desenhos, misteriosos como sempre, sem setas apontando direções, nem sinais de espécie alguma. — Tem alguma idéia sobre como chegar lá, Leslie?

— Seguir a intuição, exatamente como temos feito até agora? — perguntou ela.

— A intuição é genérica demais, muito cheia de surpresas — respondi. — Não saímos à procura de Tink e de Mashara… ou de Átila.

Será que a intuição pode levar-nos ao lugar exato no qual estávamos a caminho de Los Angeles?

Aquilo parecia um daqueles horríveis testes de inteligência, fáceis quando se conhece a resposta, mas capaz de levar uma pessoa à loucura na busca da solução.

Leslie tocou meu braço.

— Richard, da primeira vez que pousamos no desenho, não encontramos Atila, Tink ou Linda. Podíamos reconhecer-nos. Em Carmel, quando nos conhecemos, éramos jovens na época… Mas quanto mais voávamos…

— Certo! Quanto mais voávamos, mais nos modificávamos.

Sugere que olhemos para trás, para ver se alguma coisa parece familiar?

Claro!

Leslie assentiu.

— Podemos tentar isso. Onde é atrás?

Olhamos em todas as direções. O desenho estendia-se, coruscante, em todos os sentidos, mas não havia um sol, estrelas, tempo. Nada que nos guiasse.

Subimos em espiral, examinando o desenho em busca de algum sinal de onde tínhamos estado. Bem lá embaixo, e à nossa esquerda, vi então a orla rosada e amarela do ponto onde havíamos achado Pye.

— Leslie, veja… — Inclinei a asa de Growly para que ela pudesse ver. — Não parece…?

— Cor-de-rosa. Rosa e dourado! — exclamou ela. Olhamos um para o outro, com uma leve esperança, viramo-nos para as cores que reconhecíamos e subimos de novo.

— É ali. E mais adiante, depois do cor-de-rosa, não é aquele verde, Richie? Onde encontramos Mashara?

Inclinamo-nos para a esquerda, na direção dos primeiros sinais familiares que víamos no desenho.

O avião seguia em frente, uma minúscula libélula no vasto céu, e por fim avistamos o negrume ligado a Átila. Parecia que voávamos há horas desde a decolagem.

— Quando Los Angeles desapareceu, a água estava azul, com trilhas douradas e prateadas, lembra-se? — disse Leslie, apontando para o horizonte à nossa frente. — Aquilo será…? É! — disse ela, com um brilho de alívio nos olhos. — Não é tão difícil. É difícil?

É difícil, pensei comigo.

O desenho era gigantesco. Por fim, atravessamos a orla de ouro e prata, que se estendia diante de nós até onde a vista alcançava. Em algum ponto ali estava uma área exata, de alguns metros, onde a quilha do Growly tinha de tocar no desenho, a porta para nossa própria época.

Onde?

Continuamos a voar, esquadrinhando o desenho à procura dos dois caminhos brilhantes que nos levaram a nosso primeiro encontro, em Carmel. Havia milhões de caminhos lá embaixo, muitos milhões de paralelas e interseções.

— Ah, Richie — disse minha mulher finalmente, com desalento.

— Nunca vamos achar aquele lugar!

— Claro que vamos. — No entanto, no íntimo eu receava que ela tivesse razão. — Não chegou a hora de experimentarmos a intuição? Não temos muitas opções. Para qualquer lado que olhemos, parece sempre o mesmo lugar.

— Está certo, Richie. Você ou eu?

— Você — respondi.

Leslie relaxou no assento, fechou os olhos e ficou em silêncio durante alguns momentos.

— Vire à esquerda. — Porventura ela percebia a aflição em sua voz? — Complete a curva para a esquerda e desça…

A taverna estava quase vazia. Havia um homem sozinho na extremidade do balcão, e um casal de cabelos brancos num reservado.

O que estaremos fazendo num bar; pensei. Odiei os a vida inteira, atravessava ruas para evitá-los.

— Foi um engano — falei. — Vamos sair daqui. Leslie pôs a mão em meu braço, evitou que eu saísse.

— Muitos lugares pareceram errados quando pousamos, querido. Tink foi um engano? E o lago Healey? — Caminhou na direção do balcão, virou-se para olhar o casal idoso no reservado, e seus olhos se arregalaram.

Fui ficar ao lado dela.

— Incrível! — murmurei. — Somos nós, não há dúvida, mas…

— Balancei a cabeça.

Mas mudados. O rosto da mulher era tão vincado quanto o do homem, e a boca tão dura quanto a dele. O velho era encovado, cor de cinza. Não eram tão idosos como parecia à primeira vista, mas alquebrados. Sobre a mesa havia duas garrafas de cerveja, sanduíches e batatas fritas. Entre os dois estava, com a capa virada para baixo, um exemplar de nosso último livro. Conversavam.

— O que está achando disso? — perguntou Leslie, também num sussurro.

— Um casal alternativo, em nossa própria época, lendo nosso livro num bar?

— Por que não nos vêem, Richie?

— Provavelmente estão bêbados. Vamos embora. Leslie não levou em consideração minhas palavras.

— Talvez devêssemos conversar com eles, mas acho horrível me meter, eles parecem tão fechados! Vamos sentar ali perto um pouco e escutar.

— Escutar? A conversa dos outros, Leslie?

— Acha que não devemos? Então aborde-os e me aproximarei assim que perceber que desejam companhia.

Examinei o casal.

— Talvez você tenha razão, querida.

Entramos no reservado ao lado do deles e nos sentamos no canto, de modo que pudéssemos observar-lhes os rostos.

O homem tossiu e bateu no livro que estava diante da mulher.

— Eu poderia ter escrito isso! — comentou ele, enquanto mastigava o sanduíche. — Poderia ter escrito tudo que está neste livro!

A mulher suspirou.

— Talvez pudesse mesmo, Dave.

— Ora, se poderia! — O homem tossiu de novo. — Escute, Lorraine, o sujeito pilota um velho biplano. E daí? Eu comecei a tirar o breve, você sabe disso. Quase solei. O que há de tão difícil em pilotar um avião velho?

Eu não tinha escrito que era difícil, pensei. Escrevi que eu estava numa roda-viva quando percebi que minha vida não estava indo em nenhuma direção.

— Há outras coisas no livro além de aviões velhos — retrucou a mulher.

— Ora, ele não passa de um grande mentiroso. Ninguém ganha a vida assim, levando pessoas para passear e decolando de campos de feno. É tudo inventado. E a mulher dele? Vai ver que inventou também. Nada daquilo é verdade. Não percebe?

Por que ele era tão incrédulo? Se eu lesse um livro de um aspecto alternativo meu, não me reconheceria nas páginas? Se ele é um aspecto de mim, pensei, por que não partilhamos os mesmos valores?

O que faz ele num bar, bebendo cerveja e, ainda por cima, comendo o cadáver moído e frito de algum boi infeliz?

Era uma criatura infeliz e, pela aparência, fazia bastante tempo que estava assim. Tinha o mesmo rosto que eu via no espelho todos os dias, com a diferença de que as rugas nele eram tão marcadas e fundas que davam a impressão de que tentara mutilar o rosto com uma faca.

Havia nele um quê de atormentado, uma sensação de angústia, e tive vontade de me afastar dele, sair dali.

Leslie percebeu minha inquietude, e segurou minha mão por cima da mesa, pedindo-me paciência.

— Mas, mesmo que sejam inventados, o que tem isso, Davey?

É só um livro. Por que ficar tão zangado?

O homem acabou o hambúrguer e pegou uma batata frita do prato dela.

— Só estou dizendo que você me encheu a paciência para ler esse livro, e li. E não vi nada de tão especial nele. Eu podia ter feito tudo que esse camarada fez. Não sei por que você acha esse livro tão…

sei lá o quê.

— Não acho que ele seja nada. Acho só que é exatamente isso que você acabou de dizer, acho que fica a impressão de que o livro se refere a nós.

O homem olhou para ela, surpreso, mas a mulher ergueu a mão.

— Se você tivesse continuado na aviação, quem sabe? E você também escrevia, lembra-se? Trabalhava no Courier e escrevia contos à noite. Exatamente como esse homem.

— Bah! — fez o homem. — Contos à noite! E em que isso deu? Rejeições, uma caixa cheia de papeletas de rejeição. Quem está interessado nisso?

A voz da mulher era quase consoladora.

— Talvez você tenha desistido cedo demais.

— É possível. Digo-lhe que poderia perfeitamente ter escrito aquele negócio da gaivota que ele escreveu! Quando era menino, costumava ir para o cais e ficava olhando as aves. Ficava imaginando que eu tinha asas…

Eu sei, pensei. Você se comprimia contra as pedras, fazia o possível para sumir de vista, e elas voavam tão perto que você ouvia o vento em suas asas, como se fossem espadas emplumadas. Então, elas se detinham no ar, mergulhavam como morcegos, livres no céu, e lá continuava você, ancorado nas pedras sólidas.

Subitamente, fui tomado de compaixão pelo homem, senti os olhos marejarem enquanto observava aquele rosto macerado.

— Eu poderia ter escrito aquele livro, cada uma de suas palavras.

— Ele tossiu de novo. — Hoje em dia estaria rico.

— É… — concordou a mulher.

Ela calou-se, terminando o hambúrguer. O homem pediu outra cerveja, acendeu um cigarro, e por algum tempo desapareceu atrás de uma cortina de fumaça azul.

— Dave, por que você deixou de voar, se gostava tanto?

— Nunca lhe contei? Foi simples. Ou se pagava uma fortuna para aprender, custava mais ou menos vinte dólares por hora no tempo em que se vivia uma semana com vinte dólares, ou se trabalhava como um escravo, polindo aviões dias e dias, bombeando gasolina de manhã à noite para conseguir um vôo. Nunca fui escravo de homem nenhum.

A mulher não respondeu.

— Você faria isso? — perguntou ele, — Gostaria de voltar para casa cheirando a gasolina e a cera, todas as noites, em troca de um vôo por semana? Naquele ritmo, eu levaria um ano para tirar meu breve. — O homem suspirou. — Eles chamam a gente de manicaca. “Manicaca, limpe esse óleo.” “Manicaca, varra o hangar.” “Manicaca, despeje o lixo.” Comigo, não! — Deu uma tragada no cigarro, como se queimasse a própria recordação. — O Exército também não era muito melhor — disse, em meio à nuvem de fumaça —, mas ao menos me pagava em dinheiro. — Olhou para o outro lado do bar sem nada ver, com a cabeça em outro tempo. — A gente saía para manobras, e às vezes os caças desciam sobre nós como se fossem lanças voadoras, você sabe como é. Desciam, arremetiam e sumiam de vista, e eu ficava pensando se não devia ter me alistado na Força Aérea, Gostaria de ter sido piloto de caça.

Nada disso, pensei. O Exército foi uma opção inteligente, Dave.

No Exército, em geral, só se mata uma pessoa de cada vez.

O homem suspirou outra vez e tossiu.

— Não sei. Talvez você tenha razão em relação ao livro.

Poderia ser eu. É claro que poderia ter sido você, pois era suficientemente bonita para ser uma atriz de cinema. — Deu de ombros. — Realmente, eles passaram por muitos momentos difíceis naquele livro. É claro que foi tudo por culpa dele. — O homem fez uma pausa, deu outra longa tragada no cigarro, com um ar triste. — Não os invejo pelo que passaram, mas realmente invejo a maneira como as coisas acabaram.

— Não fique melancólico por minha causa! Fico satisfeita por não ser eles! A vida que levam tem umas coisas boas, mas é tudo muito instável, coisas que desconheço. Se eu fosse ela, não conseguiria dormir. Tivemos uma boa vida, você e eu… bons empregos, nunca estivemos desempregados ou falidos, nem um só dia, nem nunca estaremos. Temos uma boa casa, algumas economias. Não somos as pessoas mais espetaculares do mundo, talvez não sejamos nem as mais felizes, mas eu o amo, Dave… O homem riu e bateu na mão dela.

— Amo você tanto, que nem imagina…

— Ah, David! — disse ela, balançando a cabeça.

Ficaram em silêncio por muito tempo. Como haviam mudado para mim, apenas naquele breve período em que eu estava perto deles!

Por mim, Dave jamais teria começado a fumar, mas eu gostava dele.

Tinha passado da aversão à solidariedade por um lado meu que nunca havia conhecido. O ódio é o amor sem os fatos, dissera Pye. Se detestamos uma pessoa, não haverá fatos que, se conhecêssemos, mudariam nossa opinião?

— Sabe o que vou lhe dar em nosso aniversário de casamento?

— perguntou a mulher.

— O que poderá ser?

— Aulas de vôo!

O homem olhou para a mulher como se ela tivesse perdido o juízo.

— Você ainda pode fazer isso, Davey. Sei que pode… Ficaram em silêncio por algum tempo.

— Droga. Não é justo — retrucou ele.

— Nada é justo — disse a mulher. — Mas você sabe como são essas coisas, às vezes eles dizem seis meses, e o tempo vai passando, as pessoas vivem anos!

— Lorraine, tudo passou tão depressa] Ontem mesmo me alistei no Exército, e isso foi há trinta anos! Por que não dizem à gente que a vida passa tão depressa?

— Dizem — respondeu ela.

O homem suspirou.

— E por que não prestamos atenção?

— Faria alguma diferença?

— Faria agora — respondeu ele. — Se eu pudesse viver de novo, sabendo disso.

— O que você diria a nossos filhos, agora, se tivéssemos filhos?

— perguntou ela.

— Eu lhes diria que pensassem em tudo. Realmente quero fazer isso? Não importa o que a gente faz, o que importa é a gente querer!

A mulher olhou para ele, surpresa. Parece que ele não fala assim com freqüência, pensei.

— Eu lhes diria que não há nada de engraçado em a gente chegar aos últimos seis meses de vida — disse o homem — e ficar imaginando o que aconteceu ao que você tinha de melhor. O que aconteceu ao que havia de importante? — O homem tossiu e franziu a testa, apagando o cigarro no cinzeiro. — Eu lhes diria que ninguém pretende viver em… mediocridade, mas essas coisas acontecem, garotos, acontecem, a menos que vocês pensem em tudo que fazem, a menos que vocês tornem cada escolha a melhor que sabem fazer.

— Você devia ter sido um escritor, Davey. Ele fez um gesto de discórdia…

— É como se no fim houvesse um teste-surpresa: sinto orgulho de mim? Dei minha vida para me tomar a pessoa que sou neste exato momento! O que paguei valeu a pena? — De repente, ele dava a impressão de estar terrivelmente cansado.

Lorraine tirou um lenço de papel da bolsa, encostou a cabeça no ombro dele e enxugou uma lágrima. O marido amparou-a, afagou-a, enxugou os próprios olhos e os dois ficaram em silêncio, só quebrado pela insistente tosse dele.

Talvez fosse tarde demais para ele dizer aos filhos, pensei, mas ao menos ele contou a alguém. Dissera à mulher e a nós, à distância de uma mesa e de um universo. Ah, Dave…

Quantas vezes eu imaginara aquele homem, quantas vezes havia testado minhas decisões com referência a ele: se eu responder não a este teste, se jogar com segurança, como me sentirei quando olhar para trás e ver o que fiz? A algumas escolhas era fácil dizer não: não quero roubar bancos, não quero me viciar em coisa alguma, não quero trocar minha vida por uma emoção barata. Mas a decisão quanto a enfrentar qualquer aventura real era avaliada segundo a visão dos olhos dele: quando eu me lembrar disso, ficarei feliz por ter ousado ou por não ter agido assim? Agora ele estava ali em pessoa, dizendo-nos.

— Coitados! — compadeceu-se Leslie. — Somos nós, Richie, desejando havermos tido uma vida diferente?

— Trabalhamos demais — respondi. — Temos muita sorte de termos um ao outro. Seria bom dedicarmos mais tempo e desfrutar o que somos, ficarmos um pouco mais quietos juntos.

— Eu também! Sabe, meu amor, podemos diminuir nosso ritmo — disse ela. — Não somos obrigados a ir a conferências, fazer filmes e assumir dez projetos ao mesmo tempo. Acho que não precisávamos nem mesmo brigar com a receita federal. Talvez devêssemos ter saído daqui, ido para a Nova Zelândia e ficar de férias o resto da vida, como você quis fazer.

— Acho bom não termos feito isso, querida. Acho bom termos ficado. — Olhei para ela, lembrando-me com amor de todos aqueles anos em que estávamos juntos. Por mais trabalhosos que tivessem sido, representavam também a maior alegria de minha vida.

Tempos duros, tempos bons, falou Leslie com os olhos.

Tampouco eu os trocaria por coisa alguma.

— Vamos tirar umas longas férias quando voltarmos — propus, ganhando uma nova perspectiva com a observação daquele casal no fim do caminho.

Ela concordou.

— Vamos reformular nossas vidas.

— Sabe o que estou pensando, Davey, meu amor? — perguntou Lorraine, com um sorriso triste.

Ele pigarreou e sorriu também.

— Nunca sei o que você está pensando.

— Acho que devemos pegar este guardanapo aqui — disse ela, metendo a mão na bolsa — e este lápis, e relacionar o que mais queremos fazer e transformar esses seis meses nos melhores de nossa vida. O que iríamos fazer se não houvesse médicos para controlar-nos?

Já que eles admitem que não podem curar você, com que direito vêm nos dizer o que devemos fazer com o tempo que nos resta? Sugiro que façamos essa lista e depois aproveitemos o tempo.

— Você é doida mesmo.

— Aulas de vôo, finalmente… — começou ela a relacionar.

— Ora, pare com isso, querida.

— Foi você mesmo quem disse que poderia fazer tudo o que esse sujeito fez — disse ela, apontando o livro. — É só para nos divertirmos. Vamos. O que mais?

— Bem, sempre tive vontade de viajar, ir à Europa, talvez, e já que estamos sonhando…

— À Europa, mas onde? Algum lugar em especial?

— Itália — sugeriu ele, como se expressasse um desejo secreto.

Ela arqueou as sobrancelhas e anotou a sugestão do marido.

— E antes de irmos, eu gostaria de aprender um pouco de italiano, para podermos conversar com as pessoas lá.

A mulher levantou o olhar, surpresa, detendo o lápis no ar por um instante.

— Vamos comprar uns livros de italiano — disse, escrevendo.

— Há também aulas em cassetes. — Olhou para ele. — O que mais?

A lista é de tudo que você quiser.

— Ah, não temos tempo. Devíamos ter feito isso…

— Devíamos, uma pinóia — retrucou ela. — Não faz sentido ficarmos com saudade de um passado que não podemos recuperar. Por que não desejarmos coisas que ainda podemos fazer?

Ele pensou nisso por um momento, e sua expressão melancólica logo desapareceu. Foi como se ela lhe tivesse insuflado vida nova.

— Isso mesmo! Está na hora! Acrescente aí: surfar!

— Surfar? — admirou-se ela, arregalando os olhos.

— O que o médico dirá sobre isso? — perguntou ele, com um brilho travesso no olhar.

— Vai dizer que não é saudável — respondeu ela, rindo. E anotou no guardanapo. — O que mais?

Leslie e eu rimos um para o outro.

— Eles podem não nos ter ensinado a voltar para casa, mas nos mostraram o que devemos fazer quando chegarmos lá — comentei.

Leslie assentiu com a cabeça, empurrou o manete invisível para a frente e o bar sumiu num turbilhão.